31.5.06
29.5.06
25.5.06
Bons Ventos e Óptimos Casamentos
Sorte Malvada
Havia de ser no meu Benfica...
23.5.06
Entre aspas XII
21.5.06
17.5.06
Mas o que é que isso interessa? Parte IV
15.5.06
13.5.06
Desembucho VI
Mas o que é que isso interessa? Parte III
Entre aspas XI
E não é que foi mesmo?...
9.5.06
Manifestação de Desagrado
É Meu e Vosso Este Fado
Curtas I
8.5.06
As Palavras
Mas o que é que isso interessa? Parte II
7.5.06
Morangos Sem Açucar
Não fui eu que disse, foi ele.
6.5.06
Deus nos ajude porque, isto sim, é pecado
5.5.06
Entre aspas X
"ESTENDO-ME AO SOL com Jennifer Lopez. Não trocamos uma palavra. Nem podemos. Eu sou real. Ela, não. Eu sou um corpo leitoso, coberto por uma penugem hominídea que transforma o Tony Ramos num corredor da Volta a França. Ela é uma imagem de papel. Perfeita. Refeita. Com um decote que lhe lambe o umbigo e aquele ar de que falava Nelson Rodrigues – «bonitinha mas ordinária» - aquele ar que provoca nos homens uma fome de Biafra. Jenny sorri. E, junto a ela, o amado do momento: Ben Affleck, rapaz com cara de mecânico e dentadura de montada. Sim, parecem felizes. Mas a questão é outra: será que têm justificação para isso? Não falo de Jenny porque sempre desconheci os abismos da sensibilidade feminina. Falo de Ben. Falo da cara de Ben. Falo deste patético sorriso de deslumbramento que se apossessa do rapaz. E então imagino uma conversa com ele. De homem para homem. Frontal e séria. Num canto qualquer. E perguntar-lhe. Sim, perguntar-lhe se ele está contente com a vida. Não, não falo do óbvio: não se pergunta a Lance Armstrong se ele ficou feliz com a camisola amarela – apesar do homem, coitado, só ter um testículo. Falo do resto. Falo de Jenny. E então dizer-lhe: «Eu sei, Ben, que tu amas Jenny e desejas fazer dela uma mulher honesta». Pausa. Respirar fundo. Momento da verdade: «Mas saberás tu, meu filho, que a Jenny, a tua Jenny, é também minha, e do Tozé, e ali do Mesquita padeiro, e do Luís zarolho, e de milhares de Portugueses, e de milhões de europeus, e de biliões de criaturas neste mundo que, à custa da tua Jenny, à custa dessa Jenny que tu julgas só tua, têm por habito tourear-te mentalmente de todas as formas possíveis e impossíveis, usando a abusando desse anjo que tu veneras com o teu próprio corpo? Saberás tu que existem biliões de machos que, na escuridão do vício, te entram pelo quarto adentro – sem bater à porta – e te roubam a mulher da cama – sem a delicadeza de um bilhete?» EU SEI que nenhum homem escapa ao ciúme. O ciúme é a artéria principal por onde corre o nosso afecto. Mas o ciúme do bairro é diferente do ciúme do mundo. É bonito. É familiar. É pequenino. O homem do talho gosta de beijar mentalmente as nalgas da minha senhora? É justo assim: ele inveja-me a mulher, eu invejo-lhe as alheiras. Mas o ciúme do mundo é anónimo. É imenso. E destrói o orgulho que sentimos quando, perante a gula alheia, sabemos que a exclusividade existe. SIM, estendo-me ao sol com Jennifer Lopez. E Ben Affleck sorri. Pobre corno."
João Pereira Coutinho