13.9.06
3.9.06
Regresso
2.9.06
Pitagora Suicchi
15.8.06
Uma pausa nas férias para isto:
15.7.06
Reminiscências V
14.7.06
13.7.06
DesembuchoVIII
3.7.06
27.6.06
23.6.06
22.6.06
21.6.06
Entre aspas XV
20.6.06
18.6.06
Scolariose Múltipla I
16.6.06
15.6.06
12.6.06
9.6.06
8.6.06
7.6.06
"Olhar para a frente...
3.6.06
2.6.06
31.5.06
29.5.06
25.5.06
Bons Ventos e Óptimos Casamentos
Sorte Malvada
Havia de ser no meu Benfica...
23.5.06
Entre aspas XII
21.5.06
17.5.06
Mas o que é que isso interessa? Parte IV
15.5.06
13.5.06
Desembucho VI
Mas o que é que isso interessa? Parte III
Entre aspas XI
E não é que foi mesmo?...
9.5.06
Manifestação de Desagrado
É Meu e Vosso Este Fado
Curtas I
8.5.06
As Palavras
Mas o que é que isso interessa? Parte II
7.5.06
Morangos Sem Açucar
Não fui eu que disse, foi ele.
6.5.06
Deus nos ajude porque, isto sim, é pecado
5.5.06
Entre aspas X
"ESTENDO-ME AO SOL com Jennifer Lopez. Não trocamos uma palavra. Nem podemos. Eu sou real. Ela, não. Eu sou um corpo leitoso, coberto por uma penugem hominídea que transforma o Tony Ramos num corredor da Volta a França. Ela é uma imagem de papel. Perfeita. Refeita. Com um decote que lhe lambe o umbigo e aquele ar de que falava Nelson Rodrigues – «bonitinha mas ordinária» - aquele ar que provoca nos homens uma fome de Biafra. Jenny sorri. E, junto a ela, o amado do momento: Ben Affleck, rapaz com cara de mecânico e dentadura de montada. Sim, parecem felizes. Mas a questão é outra: será que têm justificação para isso? Não falo de Jenny porque sempre desconheci os abismos da sensibilidade feminina. Falo de Ben. Falo da cara de Ben. Falo deste patético sorriso de deslumbramento que se apossessa do rapaz. E então imagino uma conversa com ele. De homem para homem. Frontal e séria. Num canto qualquer. E perguntar-lhe. Sim, perguntar-lhe se ele está contente com a vida. Não, não falo do óbvio: não se pergunta a Lance Armstrong se ele ficou feliz com a camisola amarela – apesar do homem, coitado, só ter um testículo. Falo do resto. Falo de Jenny. E então dizer-lhe: «Eu sei, Ben, que tu amas Jenny e desejas fazer dela uma mulher honesta». Pausa. Respirar fundo. Momento da verdade: «Mas saberás tu, meu filho, que a Jenny, a tua Jenny, é também minha, e do Tozé, e ali do Mesquita padeiro, e do Luís zarolho, e de milhares de Portugueses, e de milhões de europeus, e de biliões de criaturas neste mundo que, à custa da tua Jenny, à custa dessa Jenny que tu julgas só tua, têm por habito tourear-te mentalmente de todas as formas possíveis e impossíveis, usando a abusando desse anjo que tu veneras com o teu próprio corpo? Saberás tu que existem biliões de machos que, na escuridão do vício, te entram pelo quarto adentro – sem bater à porta – e te roubam a mulher da cama – sem a delicadeza de um bilhete?» EU SEI que nenhum homem escapa ao ciúme. O ciúme é a artéria principal por onde corre o nosso afecto. Mas o ciúme do bairro é diferente do ciúme do mundo. É bonito. É familiar. É pequenino. O homem do talho gosta de beijar mentalmente as nalgas da minha senhora? É justo assim: ele inveja-me a mulher, eu invejo-lhe as alheiras. Mas o ciúme do mundo é anónimo. É imenso. E destrói o orgulho que sentimos quando, perante a gula alheia, sabemos que a exclusividade existe. SIM, estendo-me ao sol com Jennifer Lopez. E Ben Affleck sorri. Pobre corno."
João Pereira Coutinho
4.5.06
Mas o que é que isso interessa? Parte I
3.5.06
Governar no Desgoverno
29.4.06
Entre aspas IX
Foi tão bom para ti como foi para mim?
21.4.06
20.4.06
Será que se vai embora no final da época?
18.4.06
Entre aspas VIII
Desembucho V
17.4.06
14.4.06
Os Nossos Tempos
6.4.06
Entre aspas VII
4.4.06
Entre aspas VI
A Propósito de Ti
"Somos felizes. Acabámos de pagar a casa em Outubro, fechámos a marquise, substituímos a alcatifa por tacos, nenhum de nós foi despedido, as prestações do Opel estão no fim. Somos felizes: preferimos a mesma novela, nunca discutimos por causa do comando, quando compras a «TV Guia» sublinhas a encarnado os programas que me interessam, lembras-te sempre da hora daquela série policial que eu gosto tanto, com o preto cheio de anéis a dar cabo dos Italianos da Mafia.
Somos felizes: aos domingos vamos ao Feijó visitar a tua mãe, ficas a conversar com ela na cozinha e eu passeio com o Indiano, filho de uma senhora que mora lá no pátio; assistimos ao básquete dos sobrinhos dele no pavilhão polivalente, comemos uma salada de polvo no café durante os resumos do futebol, e voltamos para Almada à noite, com o jantar que a tua mãe nos deu numa marmita embrulhada no «Record», a tempo de assistir às perguntas sobre «factos e personalidades» do concurso em que a apresentadora se parece com a tua prima Beatriz, a que montou um pronto-a-vestir no centro comercial do Prior Velho. Somos felizes. A prova de que somos felizes é que comprámos o cão no mês passado e foi por causa do cão que tirámos a alcatifa, que as unhas do animalzinho rasparam de tal forma que já se notava o cimento do construtor por baixo. Andamos a ensiná-lo a não estragar as cortinas, pusemos-lhe uma coleira contra as pulgas depois de uma semana inteira a coçarmo-nos sem entender porquê, passados dois dias o Fernando começou a coçar-se também e a acusar-me de cheirar a cachorro e levar pulgas para a repartição, o chefe avisou-me do fundo
- Veja-me lá isso, Antunes.
De modo que pus também uma coleira contra as pulgas debaixo da camisa e o Dionísio, espantado
- Deste em cónego ou quê?
E eu, envergonhado, a abotoar o colarinho
- É uma coisa chinesa para o reumatismo, a Jóia Magnética Vitafor é uma porcaria ao pé disto
E como nas Finanças se respeitam o reumatismo e as coisas chinesas, nunca mais me maçaram.
Às segundas, quartas e sextas sou eu que vou lá abaixo levar o cão a fazer chichi contra a palmeira, às terças, quintas e sábados é a tua vez, e o que não vai lá abaixo fica à janela a olhar o bichinho a cheirar os pneus dos automóveis, com um ar sério de quem resolve problemas de palavras cruzadas que os cães têm sempre que farejam postes e Unos.
Somos felizes. Por isso não me preocupei no Sábado com o animal, muito entretido na praceta, e tu atrás dele, de trela enrolada na mão, sem olhares para cima nem dizeres adeus, a nadares devagarinho até desapareceres na travessa para a estação dos barcos. Foi anteontem. Às onze horas tirei o cozido do forno e comi sozinho. Ontem também. Hoje também. Não levaste roupa, nem pinturas, nem a fotografia do teu pai, nada. Ainda há bocadinho acabei de gravar o episódio da novela para ti. A tua mãe telefonou, a saber porque é que não fomos ao Feijó, e eu disse-lhe que daqui a nada lhe ligavas. Porque tenho a certeza de que tu não te foste embora, visto sermos felizes. Tão felizes que um dia destes vou comprar um micro-ondas para, se chegares a casa, teres a comida quente à tua espera."
António Lobo Antunes, Livro de Crónicas (1995)
2.4.06
Recomendação V
1.4.06
Entre aspas IV e V
31.3.06
Entre aspas III
30.3.06
Curb Your Enthusiasm S03 Ep08
Recomendação IV
29.3.06
Quem dá o que tem...
Alegoria do Palerma
A Morte II
27.3.06
26.3.06
Controvérsia II
25.3.06
Entre aspas II e Desembucho III
24.3.06
23.3.06
Vitória de quê?
Controvésia I
22.3.06
Comentário aos Comentários
21.3.06
A Morte
Z - Haverá vida depois da morte?
X- Depois pouco me interessa. O que me interessa é se há vida antes.
Z - Como assim?
X - Se for para morrer é para morrer em grande.
Z - Queres um funeral como o da irmã Lucia? Ou seres sepultado nos Jerónimos?
X - Não. Nada disso. Quero, quando morrer, que olhem para mim e digam: "Olha, ao menos divertiu-se" Não quero morrer no hospital, ligado as máquinas. Prefiro ser atropelado. Levar com um carro. PUM! E ficar logo ali...
Z - Eu preferia morrer em casa. Na cama. Perto dos meus...
X - Que deprimente. Nem sequer sabes morrer.
Z - É mais bonito assim.
X - Podes sempre escorregar e cair de uma ribanceira ao por-do-sol... Isso seria bonito.
Z -Parvo!
X - Eu não. Não quero morrer na cama, nem no ginásio, nem na consulta de check-up, nem na secção de legumes do supermercado. Para morrer, quero morrer estendido, em casa, sozinho, com o fato gasto, desarranjado e cheio de nódoas, jornais amarelos espalhados pelo chão, coberto de embalagens de fast-food, com um cigarro partido, meio aceso no canto da boca, dois cheiros de coca em cima da mesa e um copo de whisky na mão. Para quando me encontrarem dizerem "Bonito serviço que aqui está."
Z - Rica prenda que tu me saíste.
X - Ou isso.